Como eu previa, partiste!
Chegou o dia, noite, aliás.
Um pranto silencioso insiste
Em derramar lágrimas
Que não contenho mais!
Pranto silencioso e triste
Pela carência do teu corpo amado
Quando no meu, tu deslizavas.
Pela ausência do teu toque ousado
Quando de manhã me acordavas.
Pelo desejo que me percorria
Quando arrebatado me beijavas.
Pelo rumorejo da tua voz macia,
Sibilada, cálida e rouca.
A esse apelo eu não resistia.
Pela angustia da distância
Que separou nossas bocas.
Nelas bebíamos numa ânsia
Desvairada e muito louca,
E saciávamos nossa paixão!
Pelo silêncio que apagou
O fogo intenso da emoção
-Doces e ternas lembranças-
Ao murmurares meu nome
Sem promessas e cobranças.
Ah, meu ingrato amor
Partiste tão de mansinho
Sem imaginares meu espanto
Sem tirares do meu caminho
Os espinhos desse meu pranto.
Com esse mesmo jeitinho
Sempre tão desligado
Entraste em minha vida
Dizendo-te apaixonado
E a mim pediste guarida.
Totalmente emocionada
Senti que a chama
apagada
Do meu corpo se acendeu.
Iluminou compartimentos
Onde eu havia trancado
Amargos ressentimentos.
De mim, tão escuros lugares,
Onde jamais pretendi voltar.
Bem de mansinho chegaste
Minhas entranhas minaste.
Como a água da pesada chuva
Que penetra em solo árido,
Sem licença, entraste em mim!
Sem permissão,
moraste em mim,
Sem fiador pelo teu sentimento.
E te ausentas sem envolvimento,
Sem sequer olhares para trás!
E o meu pranto silencioso insiste
Em derramar lagrimas
Que não contenho mais...
HELEN DE MORAES
(Rio
de Janeiro, BR)