Imaginação, essa arma afiada
Ao mesmo tempo sutil, desajeitada
Incontida em si, vaga por plagas
Que desconheço, mas crio e quero
E é lá que vejo esse mundo diferente
De tudo o que já tocou minha pele
Ou encantou meus olhos
É lá que contemplo tua silhueta
Ao longe, imerso nesse jardim babilónico e surreal
A
embalar-se em aristocrática cadeira,
Olhos perdidos na linha de um horizonte invisível
Mas que eu imagino avermelhado pelo pôr tardio
do sol,
Encontro-te, magicamente como eu quis,
Perfeitamente simétrico e inatingível,
Delineio-te entre o intelecto e a sensualidade
Não ouso violar esse momento de encontro
Entre teus olhos e o céu, tua mão e o
Veludo azul do teu roupão, a cadeira
Embalando teu corpo em ritmo cadenciado e sereno.
Mas minha imaginação cria outra cena,
Vejo-me então, sentada ao teu colo, meu olhar
Em paralelas na mesma direção do teu,
Sonha acordado com os momentos
Em penumbra vividos, criados, encenados,
Respiro fundo e sinto teu cheiro
Homem, loção pós barba, tabaco
Aromático, no hálito fresco que sugere
Beijo longo, sem tempo, sem mundo aqui ou agora
E assim, baixinho, fala-me de mundos
Indizíveis, fluidos e invioláveis,
Tão nosso quanto o mais pervertido dos
Nossos pensamentos, e ouço-te, enamorada
Encantada, como princesa de lendária
E conhecida história, aos pés de rei,
Dono do universo, encantado, crio-te terna
Divindade, cujo sorriso, me define e prende.
O teu poder exerces sobre mim com palavras
Sábias, doces e ao mesmo tempo arrebatadoras
Não há nada humano nesse mundo meu, além do
Teu corpohomem, do meu desejo puramente carne
De ter-te em mim, levemente pousado, como
Falcão dourado, que traz em si, as garras e
a pluma
As asas e o pouso, a profundeza e atenção do
olhar apresador
É assim que te vejo, clássico e perfeito cavalheiro
Cujo corpo sobre o meu não pesa, cujas mãos
Não agarram, deslizam, cuja boca não fala, sussurra,
Que não copula, ama, que não me prende, atrai,
É assim que te vejo, mesmo que esteja teu roupão
Caído sobre o tapete tabaco, e caia sobre teus
ombros
o
perfeito terno cinza riscado
Que te denuncia como o tipo que eu criei e amo.
Aquele que destila poesia, e me canta musicas
Suaves, enquanto desmaio docemente entre um
E outro momento de amor imaginado assim.
É assim que te amo, homem-eros-urbano!
Joana Prado