Este céu de azul profundo e ímpar, agora
misturado
Ao amarelo fugidio desse fim de tarde
Atrai meu olhar como imenso imã sideral
E nele, encantada, busco as imagens
Da minha infância, e torno-me criança
Confabulando com essa lua imensa
Esta imensa lua de sorriso largo,
Tenta, em vão, vadiando, ocultar
Um cruzeiro do sul, encantar
Câncer e Capricórnio, os trópicos, imagens
dos meus delírios,
Estes desenhos que ferem o negro
Da noite que agora cai, e
Trazem em si a magia do que é
Imensamente belo!
O feitiço de Áquila descreve-se:
E que belo momento: a lua tenta, sem sucesso,
abraçar o sol,
Que
mergulha na linha do horizonte seu sorriso vermelho, envergonhado
De amante tímido, apaixonado,
Enquanto a lua, inconformada, estende
sobre sua filha predileta ,imenso e belo
manto escuro salpicado de
Pequeninas estrelas, esses pontos de luz
brincalhões
Que enternecem e embriagam os olhos,
E
me fazem sair em busca de vaga-lumes imaginários
Unicórnios,
e duendes.
E nesse frio embebido de cheiro verde
De mato novo, faço-me fada e revôo mares
e ilhas,
rodopio e descrevo um balé encantador sobre
minha imaginária floresta, projeto um mergulho
no lago encantado que borda em suas águas
o espaço sideral
que me entorpece nesse sonho indizível em
sua plenitude,
e
na flora úmida desse bosque, deixo-me molhar
as asas delicadas em gotas reluzentes de
orvalho.
Enfim, agradecida por tamanha graça,
Repouso enternecida, ouvindo os sons desse
espaço virgem
Só meu, inviolável, mesmo que contido em
tão concreta oposição,
Vejo o mundo do pico mais alto desse meu
mundo
E tudo é verde, luminoso, o céu de estrelas
Estampado na terra pela luz dos pirilampos
Que bailam em festa contínua de pura paixão
E conquista, e sinto que meu sonho é frágil,
mas
Ampara minha cabeça cansada e torna-me
Eu mesma, nesse sonhar acordada
A que me dedico quando tenho
O privilégio de ver o sol, a lua.,
Únicas e eternas testemunhas da minha
Infância oculta sob este rosto sério
Que me mascara os dias!
Joana Prado